sexta-feira, 1 de março de 2024

A Parte e o Todo

 Alexandre Cardia Machado*

Meu cunhado e ex-presidente do ICKS, Roberto Rufo, há alguns anos me presenteou com um exemplar de A parte e o Todo, escrito por Heisenberg lá pelos anos 1960. É um livro que descreve as angústias e os desafios do desenvolvimento da Física Atômica e Quântica. Heisemberg é o autor do conhecido do chamado “Princípio da Incerteza”, que acabou com o último paradigma da Física Clássica ao afirmar que não era possível determinar ao mesmo tempo a posição e a velocidade de um elétron em seu movimento ao redor do núcleo atômico. Este mesmo princípio levou filósofos pelo mundo todo a questionar, se não podemos saber com certeza, como se comporta uma partícula, como podemos estar tão certos de como se comporta, portanto, um objeto complexo?

 Nossa sorte é que objetos complexos, de massa e velocidades baixas, não são afetados fortemente, nem pela física quântica nem pela física relativista de Einstein e sim, podemos prever suas trajetórias e criar modelos de previsão. Quanto a criar modelos, mesmo para partículas atômicas pode-se fazer previsões de funções de probabilidade usando as equações da física quântica, muito mais complicadas é verdade, mas perfeitamente possíveis para as aplicações práticas.

 Este princípio da incerteza atingiu também um preceito importante espírita a lei de causa e efeito, ao menos nos faz pensar se ela – a lei de causa e efeito é absoluta, ou é digamos relativista ou quântica.

O autor nos leva a pensar sobre, como a descoberta de leis da natureza e comportamentos que se dão a todo momento no muito pequeno, como o mundo atômico ou nuclear, seguindo sempre as mesmas regras, podem afetar as formações maiores existentes no Universo como galáxias, estrelas e outros objetos deste porte.

Werner, nos últimos 20 anos de vida encarnada trabalhou no busca de uma teoria de campo unificado, capaz de conter todas as manifestações da matéria, algo ainda não atingido.

Heinsemberg sobreviveu a duas grandes guerras, nas suas palavras teve a sorte de a Alemanha Nazista não ter investido na construção da bomba atômica, tendo ele àquela época estudado apenas o uso da energia para fins pacíficos. Fala de seu drama pessoal e de outros físicos que sabiam que isto seria possível um dia, ainda que pensassem que não houvesse tempo para construí-la naquela guerra. Infelizmente sabemos que sim e que foi usada para terminá-la em Nagazaki e Hiroshima no Japão.

O livro permeia a questão da ética no uso da ciência e o autor termina por dizer: – “Fortaleceu-se minha convicção de que, avaliadas pela escala temporal humana, a vida, a música e a ciência prosseguiriam para sempre, ainda que nós mesmos não sejamos mais do que visitantes transitórios, ou nas palavras de Niles Bohr, simultaneamente espectadores e atores do grande drama da vida”. Em outras palavras, não é no conhecimento que está o problema, mas sim na ignorância e na falta de ética na sua aplicação que reside o mal.

O Livro do Espíritos na questão 779, nos ajuda a entender:

 “Como ocorre então, que os povos mais esclarecidos sejam, frequentemente, os mais pervertidos?

– O progresso completo é o objetivo, mas os povos, como os indivíduos, não o alcançam senão passo a passo. Até que o senso moral se tenha neles desenvolvido, eles podem mesmo servir de sua inteligência para fazer o mal. O moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo.”

Para abrir a sua mente: Leia o livro A parte e o todo de Werner Heisemberg, Editora Contraponto,1996

[Texto publicado na coluna Abrindo a Mente - jornal Abertura jan/fev 2019]

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* Alexandre Cardia Machado é Presidente do ICKS – Instituto Cultural Kardecista de Santos, editor do Jornal Abertura e membro do Conselho Executivo da CEPA – Associação Espírita Internacional.