Alexandre Cardia Machado*
Meu cunhado e ex-presidente do ICKS, Roberto Rufo, há alguns anos me presenteou com um exemplar de A parte e o Todo, escrito por Heisenberg lá pelos anos 1960. É um livro que descreve as angústias e os desafios do desenvolvimento da Física Atômica e Quântica. Heisemberg é o autor do conhecido do chamado “Princípio da Incerteza”, que acabou com o último paradigma da Física Clássica ao afirmar que não era possível determinar ao mesmo tempo a posição e a velocidade de um elétron em seu movimento ao redor do núcleo atômico. Este mesmo princípio levou filósofos pelo mundo todo a questionar, se não podemos saber com certeza, como se comporta uma partícula, como podemos estar tão certos de como se comporta, portanto, um objeto complexo? Nossa sorte é que objetos complexos, de massa
e velocidades baixas, não são afetados fortemente, nem pela física quântica nem
pela física relativista de Einstein e sim, podemos prever suas trajetórias e
criar modelos de previsão. Quanto a criar modelos, mesmo para partículas
atômicas pode-se fazer previsões de funções de probabilidade usando as equações
da física quântica, muito mais complicadas é verdade, mas perfeitamente
possíveis para as aplicações práticas.
Este princípio da incerteza atingiu também um
preceito importante espírita a lei de causa e efeito, ao menos nos faz pensar
se ela – a lei de causa e efeito é absoluta, ou é digamos relativista ou
quântica.
O autor nos leva a pensar sobre,
como a descoberta de leis da natureza e comportamentos que se dão a todo
momento no muito pequeno, como o mundo atômico ou nuclear, seguindo sempre as
mesmas regras, podem afetar as formações maiores existentes no Universo como
galáxias, estrelas e outros objetos deste porte.
Werner, nos últimos 20 anos de vida
encarnada trabalhou no busca de uma teoria de campo unificado, capaz de conter
todas as manifestações da matéria, algo ainda não atingido.
Heinsemberg sobreviveu a duas
grandes guerras, nas suas palavras teve a sorte de a Alemanha Nazista não ter
investido na construção da bomba atômica, tendo ele àquela época estudado
apenas o uso da energia para fins pacíficos. Fala de seu drama pessoal e de
outros físicos que sabiam que isto seria possível um dia, ainda que pensassem
que não houvesse tempo para construí-la naquela guerra. Infelizmente sabemos
que sim e que foi usada para terminá-la em Nagazaki e Hiroshima no Japão.
O livro permeia a questão da ética
no uso da ciência e o autor termina por dizer: – “Fortaleceu-se minha convicção
de que, avaliadas pela escala temporal humana, a vida, a música e a ciência
prosseguiriam para sempre, ainda que nós mesmos não sejamos mais do que
visitantes transitórios, ou nas palavras de Niles Bohr, simultaneamente
espectadores e atores do grande drama da vida”. Em outras palavras, não é no
conhecimento que está o problema, mas sim na ignorância e na falta de ética na
sua aplicação que reside o mal.
O Livro do Espíritos na questão
779, nos ajuda a entender:
“Como ocorre então, que os povos mais
esclarecidos sejam, frequentemente, os mais pervertidos?
– O progresso completo é o
objetivo, mas os povos, como os indivíduos, não o alcançam senão passo a passo.
Até que o senso moral se tenha neles desenvolvido, eles podem mesmo servir de
sua inteligência para fazer o mal. O moral e a inteligência são duas forças que
não se equilibram senão com o tempo.”
Para
abrir a sua mente:
Leia o livro A parte e o todo de Werner Heisemberg, Editora
Contraponto,1996
[Texto publicado na coluna Abrindo a
Mente - jornal Abertura jan/fev 2019]
______________________________________
* Alexandre Cardia Machado é
Presidente do ICKS – Instituto Cultural Kardecista de Santos, editor do Jornal
Abertura e membro do Conselho Executivo da CEPA – Associação Espírita
Internacional.